domingo, 5 de junho de 2011

A morte do amor pelo aprendizado

“Se eu não estivesse aqui para exigir e cobrar de vocês, vocês não fariam nada.”


As crianças, quando bem pequenas, encontram dentro de si mesmas a motivação para aprender. Mesmo que ninguém exija nada, elas desejam ardentemente aprender a andar, a falar, a correr, a subir, a pular, a encaixar, a fechar, a abrir, a dançar, a equilibrar. Elas não precisam de ninguém cobrando isso delas, porque elas amam e querem muito aprender sobre as coisas deste mundo tão interessante no qual os adultos fazem tantas coisas ainda estranhas. Elas desejam extrair sentido de cada gesto, cada objeto, cada engrenagem, cada ser vivo, e para isso vão conquistando o aprendizado de coisas extremamente complexas numa velocidade que deixa toda mãe e todo pai atônitos.


Então por que um professor falaria tal frase para um grupo de alunos? O que aconteceu no meio do caminho para que essas crianças antes tão apaixonadas e tão hábeis em aprender se transformassem em crianças desinteressadas, que não prestam atenção, que não fazem as lições e não aprendem nada se não estiverem sob a força de um cabresto?


O que aconteceu é que a partir do momento em que elas foram para a escola, elas foram perdendo aos poucos a motivação que havia dentro delas mesmas. Ao ser submetida a currículos e provas, a criança vai mudando o foco do aprendizado: antes, era preciso aprender para fazer coisas legais, para atender a uma necessidade ou vontade daquele momento; agora, é preciso aprender para ganhar uma boa nota, para passar de ano, para agradar ao professor e para agradar aos pais. E é preciso aprender coisas que não interessam naquele momento, que são parcial ou completamente desconectadas de sua realidade. Na ordem em que o currículo manda, e não na ordem da sua curiosidade, da sua ansiedade em entender as coisas do mundo.


Não há outra conseqüência para esta prática do que a morte de quase toda centelha de alegria e amor pelo aprendizado. Pode ser que essas crianças, na vida adulta, consigam se libertar da institucionalização do ensino e reconquistar esse amor pela compreensão do mundo. Mas certamente nunca em sua totalidade.


(a frase é do filme “entre os muros da escola”)

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