domingo, 12 de junho de 2011

A questão que nunca se cala: e a socialização?

Segundo o dicionário, a socialização é "um processo contínuo pelo qual um indivíduo adquire identidade pessoal e aprende normas, valores, comportamentos e habilidades adequadas à sua posição social; adaptação à vida em grupo, à convivência com outras pessoas."

Muitas pessoas acreditam que a escola é o único lugar onde as crianças podem passar por este processo. Mas a escola não é o único e está longe de ser o melhor lugar para a socialização das crianças. Um indivíduo aprende a viver em sociedade simplesmente vivendo em sociedade. Parece tão óbvio, mas no entanto as pessoas têm uma enorme inquietação, porque esta é sempre a primeira questão que surge quando alguém sugere que uma criança cresça fora da escola. Vivendo numa unidade familiar, visitando familiares e amigos, ajudando nas compras da casa, indo ao médico, na padaria, na escolinha de futebol, brincando com vizinhos ou outras crianças no parque, na praça, lendo revistas, jornais, livros - é assim que se dá a socialização. Naturalmente.

A escola foi criada para ensinar às crianças e jovens os fundamentos acadêmicos, não para socializá-las. A elas não é permitido conversar entre si ou mesmo falar qualquer coisa sem permissão do professor. Quando falam em sala de aula, é sempre com medo de errar e de ser humilhado pelos colegas ou muitas vezes pelo próprio professor. A conversa livre e espontânea acontece no intervalo de vinte minutos, ou fora dos muros da escola, ou nos grupinhos que estão "matando aula". Definitivamente a escola não permite que as crianças socializem tanto quanto elas gostariam.

E a qualidade da socialização? John Holt, famoso educador norte-americano, é categórico com relação a esse assunto: "Se não houvesse nenhum outro motivo para querer manter seus filhos fora da escola, a vida social seria razão suficiente." Segundo ele, em todas as escolas em que ele ensinou, conheceu ou ouviu falar, a vida social das crianças é superficial, esnobe, cheia de crueldade, sexualidade precoce, competição, exclusão, repleta de conversas sobre "quem foi e quem não foi em tal festinha de aniversário, quem recebeu o melhor presente de natal, quem recebeu mais cartões no dia dos namorados, quem é do grupinho que conversa com fulaninho e quem não é."
Pode ser que na escola as crianças consigam encontrar algumas pessoas com quem elas realmente se identifiquem e se tornem realmente amigos, mas a maior parte da socialização acontece da maneira como Holt descreve. No breve espaço de um recreio ou na hora da saída em qualquer escola, qualquer pessoa que tenha algum senso crítico acha estranha a quantidade de palavrões, atitudes esnobes e humilhantes, xingamentos e agressividade.

Como Patrice Lewis fala em seu artigo "The Tyranny of socialization" (A tirania da socialização), as pessoas que criticam a idéia de educação fora da escola usando o argumento da socialização querem na verdade dizer que as crianças que não vão para a escola provavelmente não vão agir como seus pares escolarizados. Mas eles se esquecem que essas famílias não têm o menor interesse em reproduzir os valores que são disseminados na escola. Lewis diz também que os pais que querem proteger seus filhos da socialização negativa que ocorre na escola são vistos como doentes controladores, mas que as crianças que crescem fora da escola não têm o menor ressentimento por não terem sido expostas à tal socialização escolar.

No Brasil não há muitas famílias praticando o unschooling, mas nos Estados Unidos há milhares de jovens crescendo fora da escola, e eles se destacam por terem melhor vocabulário, por serem mais corteses, por apreciarem mais os livros. E certamente não são "deficientes sociais". Eles têm amigos e uma vida social normal.

A questão que fica é: queremos socializar nossos filhos em um meio onde pululam valores degenerados?





2 comentários:

  1. fê,
    muito bom lê-la por aqui.
    engraçado que nos posts que li pude reviver alguns momentos da minha vida escolar.
    o bom de tudo é que meus pais sempre conversaram muito conosco (eu e meu irmão) e com isso podemos vivenciar momentos de aprendizados bem prazerosos e o melhor, sem cobranças, sem dar conta, o aprendizado estava acontecendo. isso foi a compensação, para não dizer a salvação das várias horas perdidas no banco escolar.
    aguardo ansiosamente as próximas publicações.
    parabéns pela iniciativa!
    bj grande,
    fêdaraedolu

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  2. Oi Fe! Os pais realmente podem ter um papel importante em ajudar os filhos a lidar com a escola, se compreenderem o pouco que significam as notas, se compreenderem o motivo do tédio, e se deixarem claro para a criança que realmente muitas coisas que se passam ali são confusas mesmo, e que o problema não é com elas! Obrigada pela visita.
    Beijos!

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