sexta-feira, 22 de julho de 2011

Um trechinho para pensarmos - lugar e identidade

Retirado do livro de John Holt "What do I do on Monday?" ("O que eu faço na segunda-feira?"), pp. 30 e 31.

"Mais vezes do que eu consigo me lembrar, professores ou pais têm me dito, sobre alguma criança, "Ele não queria fazer tal coisa, mas eu o forcei, e agora ele está feliz, e se eu não o tivesse forçado, ele nunca teria feito nada." Outro dia, um agradável e provavelmente amável professor de natação me falou sobre uma criança que não queria nadar, e que ele o forçou a nadar, e a criança aprendeu e agora gosta de nadar, então por que ele não deveria ter o direito de forçar todas as pessoas a nadar? Existem muitas respostas. A criança poderia ter, a seu tempo, aprendido a nadar por seu próprio interesse, e não ter apenas o prazer de nadar, mas também o prazer muito mais importante, de ter descoberto sozinho o prazer de nadar. Ou ele poderia ter usado aquele tempo para descobrir outras habilidades e prazeres, tão bons quanto. O problema real, como eu falei para este professor, é este: Eu amo nadar, e numa escola onde nada mais é compulsório eu poderia ver motivo para tornar compulsória a natação. Mas para cada criança naquela escola há dezenas de adultos, cada um convencido de que tem alguma coisa de vital importância para "dar" à criança que ela jamais conseguiria por si própria, todas dizendo para a criança "Eu sei o que é melhor pra você [mais do que você]." Depois que todas essas pessoas terminam de obrigar a criança a fazer o que elas 'sabem' que é melhor pra elas, não resta mais tempo nem energia. O que é pior, a criança não tem mais o sentimento de estar sob controle de sua própria vida e aprendizado, ou de que ela poderia ter este controle, ou de que ela merece ter este controle, ou que se ela tivesse esse controle ela não se sairia mal. Em resumo, ela apenas está onde os outros dizem que ela está, ela é apenas o que os outros dizem que ela é."

Estamos formando adultos que têm uma enorme dificuldade em descobrir quem são?

3 comentários:

  1. Uau, Fer! Muito bom mesmo!

    E pergunto mais uma coisa: nossa sociedade nos obriga a nos enquadrar, a ser como eles gostariam e assim, amados. Dessa forma somos aceitos fazemos parte do mundo, mas caímos naquela história: temos tudo que uma pessoa pode querer para ser feliz, mas não somos. Por que será? É, temos tudo que a sociedade nos disse que deveríamos querer, mas quem somos e o que queremos mesmo?

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  2. nossa, que trecho lindo!
    e isso é muito mais real e forte do que as pessoas imaginam! hoje, só hoje, perto dos 30 anos, é que eu estou tendo os sabores de descobrir 100% sozinho as coisas que realmente me agradam e que eu decidi por mim, só por mim. ao longo dos anos, algumas poucas coisas eu descobri sozinho que gostava de fato: natação foi uma delas. mas só hoje percebo que estou de fato tomando as rédeas das minhas escolhas.

    por que não damos esse direito de descoberta para a criança o quanto antes? ser responsável pelas suas escolhas é maravilhoso!

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  3. Fê, sabe que lendo isso eu lembrei de um episódio da minha adolescência? Minha me me obrigou, em determinado período de férias, a ler 3 livros. Na época eu não tinha nenhum interesse por leitura, mas hoje em dia sou uma devoradora voraz de livros. Mas quer saber? Tenho certeza de que, com ou sem a obrigatoriedade, eu teria naturalmente me interessado por leitura. Aliás, considero que amo ler APESAR de minha mãe quase ter estragado a minha descoberta da leitura... Bjs

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